“Ah, me socorre que hoje não quero fechar a porta com esta fome na boca, beber um copo de leite, molhar plantas, jogar fora jornais, tirar o pó de livros, arrumar discos, olhar paredes, ligar-desligar a tevê, ouvir Mozart para não gritar e procurar teu cheiro outra vez no mais escondido do meu corpo, acender velas, saliva tua de ontem guardada na minha boca, trocar lençóis, fazer a cama, procurar a mancha da esperma tua nos lençóis usados, agora está feito e foda-se, nada vale a pena, puxar as cobertas, cobrir a cabeça, tudo valea pena se a alma, você sabe, mas alma existe mesmo? e quem garante? e quem se importa? (…) amanhã não desisto: te procuro em outro corpo, juro que um dia eu encontro. Não temos culpa, tentei. Tentamos.” Caio Fernando Abreu.
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